quinta-feira, 23 de maio de 2013

Reencontrei-me com o passado


Ontem fui acompanhar a minha mãe a uma reunião extraordinária na escola da pita chata, minha antiga escola. Já ia para lá preparada para encontrar o meu professor de História do secundário (que é também o professor da minha irmã) e já me tinha mentalizado inclusive a inventar uma história acerca do meu presente super promissor "ah estou na Nova, estamos na altura das frequências e está a ser um pouco complicado mas já faltou mais para acabar" "ah sim estou a pensar fazer mestrado mas ainda tenho que estudar bem o assunto" "ah na maioria dos dias saio de casa de manhãzinha e só volto ao fim do dia, passo horas enfiada na biblioteca a estudar, são imensos livros". Sempre tive medo de encontrar o senhor, quer da vez que me fui inscrever para repetir os exames quer das outras vezes que tive que ir lá tratar de assuntos na secretaria: o meu professor de História foi a primeira pessoa a dizer-me, estávamos no 11º ano, que tinha um óptimo futuro à minha frente e que se continuasse assim nada me pararia, que tinha uma óptima escrita e que sabia sumariar excepcionalmente, que jornalismo era uma boa escolha para mim, foi a primeira pessoa que me fez pensar acerca da universidade e de certo modo, mesmo sem ser propositadamente, me fez querer ser mais que uma simples aluna mediana que tinha como objectivo acabar o 12º ano. E sonhei imenso, voei voos demasiado altos, sempre motivada pelo meu professor que elogiava as minhas notas, dizia para os meus colegas olharem para os meus testes e perceberem o porquê de não terem notas tão altas como as minhas.
Quando cheguei ao auditório e vi que ele não lá estava suspirei realmente de alivio mas depressa entrei em pânico: estava lá o meu professor de Sociologia. Eu adorava o meu professor de Sociologia, toda a gente adorava, não havia ninguém que falasse como ele, tinha uma dicção, um tom sereno e simultaneamente apelativo, conseguia atrair sempre a atenção dos alunos para a matéria e sabia como nos incentivar. Quando temos bons professores que nos sabem ensinar e cativar tornamos-nos bons alunos e as minhas notas de sociologia começaram a subir, cheguei até a pôr a hipótese de seguir sociologia na universidade mas as saídas não me apelavam de modo algum, porém sempre admirei aquele senhor, tal como o meu professor de História. E quando o vi no auditório fingi que não o tinha visto; a verdade é que estava preparada para inventar uma história para o professor de História mas esqueci-me completamente do professor de Sociologia (e da de Português também, mas felizmente essa não estava lá).
Como é que explicamos às pessoas que apostaram em nós, que tinham imensas expectativas para connosco, que afinal não somos nada mais que seres fracassados, que afinal a universidade foi um sonho que já desceu à Terra e fugiu a sete pés, que a ideia que tinham para o nosso futuro não passa de um mero e ridículo pensamento e que somos apenas mais uma pessoa que acabou a escola e aparentemente cruzou os braços sob o peito (que é o que toda a gente acha que faço)? Como é que explicamos às pessoas que admiramos, que moldamos como modelos para sermos futuramente, que não somos absolutamente nada no mundo, que não contribuímos para o país, para a economia, para o futuro? Eu tenho vergonha do que a minha vida se tornou, e por isso mesmo me sentei na cadeira mais perto da saída e fui a primeira a ir-me embora quando a reunião acabou.

E foi por ter vergonha do meu presente que quando trabalhava atrás do balcão e vi o meu professor de Sociologia entrar no meu local de trabalho me escondi atrás do balcão. E acho que são nestas alturas que percebemos que temos de facto vergonha de quem somos.

1 comentário:

Tim disse...

não devias ter vergonha.Nem tudo corre como é planeado ou como nós pensamos, mas não é por isso que devemos de baixar os braços. A vida por vezes surpreende-nos tanto pela negativa como pela positiva, mas nunca podemos baixar os braços. Acredito que um dia consigas o que tanto queres, basta acreditar